Luiza Possi
Viagem emotiva
Completando dez anos de carreira, cantora retorna ao palco onde estreou para gravar seu novo DVD, Seguir Cantando.


Lá se vão dez anos desde que Luiza Possi se apresentou pela primeira vez no Citibank Hall, em São Paulo. Calejada e "mais malaca", ela voltou ao palco de estreia para gravar seu mais recente trabalho, o DVD Seguir Cantando. Longe de preconceitos musicais, despida de vaidades e sem medo de arriscar, Luiza trouxe para si a responsabilidade de dirigir o show. Montou uma banda, procurou arranjadores, elaborou cenário, tudo para captar a essência do projeto: uma viagem emotiva que tocasse o público de diversas formas.

    Para isso, o repertório teve canções mais emocionais e outras que colocaram o público para dançar. Entre as primeiras, está Cacos de Amor, que canta com a mãe, Zizi Possi. No segundo grupo, estão as parcerias com Ivete Sangalo em O Circo Pega Fogo e Azul. Outro convidado é Thiaguinho, ex-vocalista do grupo Exaltasamba.
    Depois de se mudar para o Rio de Janeiro, Luiza voltou para São Paulo, longe de polêmicas e focada no trabalho. Com quatro álbuns de estúdio - Eu sou assim (2002), Pro mundo levar (2004), e o premiado Escuta (2006) e Bons ventos sempre chegam (2009) - e um ao vivo - A vida é mesmo agora (2007) -, ela também distribui críticas e conselhos aos aspirantes do reality show Ídolos, da Record.

Na Poltrona - Você completa dez anos como cantora em 2011. O DVD Seguir Cantando é um marco desses dez anos?
Luiza Possi - Na verdade, gravei meu primeiro disco em 2001, mas só lancei em 2002. É uma comemoração no gerúndio. O DVD não foi pensando para comemorar os dez anos. Só quando entrei no Citibank Hall, uma década depois do meu primeiro show lá, me toquei de que estava fazendo dez anos de carreira. Lembro de que quando saí de casa para gravar o primeiro disco, minha mãe falou: "Espera um pouco". Eu respondi "Por quê? Vai ter almoço?". Ela disse para esperar mais três anos para gravar. Mas não dava, já era. Foi uma escolha crescer aos olhos de todo mundo. Hoje, estou calejada, ganhei manha, fiquei mais malaca, aprendi a dizer não.

O DVD é um recorte desse momento especial na sua carreira. Que momento é esse?
Estou me encontrando com minha idade, minha visceralidade, minha virilidade. O DVD começa de uma forma emblemática com O Portão, do Roberto Carlos, dizendo "eu voltei". Estou voltando para São Paulo, minha casa, e tomando as rédeas para escolher um repertório que toque as pessoas. Quero que elas saiam da posição de ouvir o show e bater palmas, mas participem de uma viagem emotiva.

As músicas do repertório cumpriram dois requisitos: ou eram mais emocionais ou deviam fazer o público dançar. Por quê?
Os shows estavam indo por esse caminho, mas os arranjos ainda deixavam as coisas perdidas. Quis mudar isso. O cenário tem cores fortes, néons e uma asa de borboleta que vai se abrindo. Os arranjos ganharam força e peso, com elementos eletrônicos. Fui até onde conseguia ver, esse foi o grande lance. O meio do caminho não era bacana.

Qual o maior desafio para sair do "meio do caminho"?
Foi encontrar uma banda à altura do que eu estava querendo, além de arranjadores e um diretor musical, o Conrado Goys, que captassem a essência do projeto. Juntos, conseguimos isso. Foi um trabalho artesanal.

Você mesma dirigiu o show. Foi sua primeira experiência?
Foi. Meu tio (José Possi Neto, diretor de teatro) sempre me dirigiu, inclusive no meu primeiro show. Aprendi tudo com ele. Outro dia, estava vendo o Seguir Cantando com a minha mãe e ela perguntou: "Quem te ensinou a montar o repertório assim?". Cortei os papeis com os nomes das músicas para fazer uma colagem e poder pensar e repensar sem ficar rabiscando. Fiz o cenário contar uma história com as músicas e pensei num repertório que começasse com uma porrada, mostrasse aos poucos um lado mais intimista e acabasse lá em cima.

Em agosto de 2010, Na Poltrona entrevistou sua mãe, Zizi Possi. Ela contou que fez um show em Belo Horizonte quando estava grávida de você com nove meses. Ela cantava em um ritmo, você chutava a barriga em outro. Qual foi a principal lição que você aprendeu com ela?
Ela sempre conta essa história (risos). Ela me ensinou a deixar vaidade de lado no palco, a me entregar, a correr todos os riscos. Não ficar pensando: "Estou fazendo certo? As pessoas estão gostando?". Dar o que eu tenho. Outra coisa é a dignidade musical: fazer qualquer estilo, mas bem feito, com qualidade. Hoje, não peço mais conselho pra ela. Gosto de ter a aprovação dela depois. Se não tiver, paciência.

"No DVD, cantar com a minha mãe foi mais emocionante que o normal. Não parei de chorar um minuto."

Ela disse que se emociona quando está em cena com você. Dá para se entregar à emoção nesses momentos?
Pode acabar num chororô, num drama mexicano, mas dá para se entregar. Nem todas as emoções são tristes. No DVD, cantar com a minha mãe foi mais emocionante que o norma. Ela passou seis meses no hospital, muito mal, entre a vida e a morte (em novembro de 2010, Zizi Possi teve complicações em decorrência de uma cirurgia na coluna). No show, ela ainda estava com cateter. Não parei de chorar um minuto.

No DVD, você também canta com a Ivete Sangalo. Como surgiu essa ideia?
Ela é muito versátil, canta baladas e tem uma veia latina muito forte. Eu também tenho uma coisa eclética: gosto de música lírica, clássica, de povão, de ouvir rádios de adultos, de jovens. Quando Nelsinho (Nelson Júnior), que foi meu namorado por seis anos, compôs O Circo pega fogo para o Escuta, ele queria que a Ivete gravasse. Isso ficou na minha cabeça até ela me chamar para cantar no trio dela no Carnaval da Bahia. A Ivete me inspira muito pelo jeito como trata as pessoas, e se comunica. Várias vezes, penso: "Se eu fosse a Ivete, o que eu faria agora?" (risos).

Em cada estilo existem músicas boas e ruins. O que é música boa para você?
Para mim, essa é a única distinção. Música boa emociona, tem dinâmica, bons timbres, cantores e letras. Se a proposta não for a letra, precisa ter um ritmo legal. Na música, você não pode sair do jeito que entrou. Precisa trazer algum sentimento, seja raiva ou felicidade.

O DVD tem oito canções de sua autoria. Você planeja um álbum só com composições próprias?
Acho que não. Compor é meu porto seguro, mas um dos meus grandes baratos é encontrar compositores bons, como o Pedro Altério, o Vini Calderoni e o Paulinho Novaes. No Brasil, é assim. Brotam cantoras, então preciso estar antenada e pegar logo as músicas de que gosto.

Em 2011, você se tornou jurada do programa Ídolos, da Record. O que a participação no programa lhe mostrou? O Brasil está bem servido de talentos?
A grande maioria das pessoas não tem uma noção de música, porque o Brasil não oferece uma educação musical. Elas vão ao programa pela fama ou para ajudar a família. Dizer não, nesses casos, é pior. É quase como condenar uma pessoa ao fracasso, frustrar o sonho de uma família inteira.

Em 2001, ao criar seu blog, você escreveu que não era "muito fã de internet". Hoje, tem MySpace, Twitter, Facebook e até mesmo um canal no Youtube. Você se rendeu à tecnologia?
Meus amigos falam: "Luiza, quem te viu e quem te vê!". O computador virou uma ferramenta muito forte, para mim, que tenho 700 mil seguidores no Twitter. Qualquer coisa que eu falo tem um poder grande. Por isso, tomo muito cuidado. Quantas vezes não apaguei uma mensagem antes de publicas?

Um dos twitteiros que você segue é o @LuizaPorre, uma paródia sua. Você se incomoda com essa brincadeira?
Conheci a Luiza Porre num show que fiz com a Sandy. Ela se juntou com a @SandydoMau. Ela é um porre não por ser chata, mas por tomar uns porres mesmo. Enquanto a Luiza Possi malha, ela toma uma pinga. Adoro o jeito como ela escreve, e ela é minha fã. Todos gostam dela. Já a Sandy do Mau eu não sei. Ela é problema da Sandy (risos).

No Youtube, você criou o canal Possi Lado B, com versões suas de outros artistas. Como surgiu esse projeto?
Tenho um guru na minha vida, que é o Nelsinho. Ele é diretor de uma agência de publicidade, me dá milhões de dicas. Gravei uma versão da Jewel, cantora que eu adoro, e mandei para o Nelsinho. Ele deu a ideia de criarmos o canal com vídeos meus cantando coisas de que eu gosto.

Depois de ter se separado do ator Pedro Neshling, as revistas especularam sobre um relacionamento seu com a cantora Maria Gadú. Como você lida com esses boatos?
Saí do Rio de Janeiro. Foi uma coisa genial da minha parte (risos). O Rio virou um campo minado: a costa é coberta pelos paparazzi. Você sai para passear com o cachorro e vira notícia. Amo o Rio, sou carioca, mas a minha vida começou a andar muito desde que voltei para São Paulo. Estou lançando o DVD, fazendo shows, participando do Ídolos. Quando compro cenoura, não viro mais notícia.

Como você se define?
Corajosa. E vamo que vamo.


Essa foi uma entrevista que a Luiza Possi deu para a revista Na Poltrona.

Ana Késsia, @anaakessia.